domingo, 9 de dezembro de 2012

A Homenagem que ainda falta prestar ao Capitão João Pereira Mano

Capitão João Pereira Mano (o terceiro a contar da esquerda), em 1997, na Casa Havaneza, Figueira da Foz, com Cor. Fernando Góis Moço (Presidente da Junta de Freguesia de São Julião da Figueira da Foz), Alfredo Pinheiro Marques (director do CEMAR), e D. Maria Helena dos Santos Alves (administradora da Casa Havaneza), na sessão de lançamento do livro "Terras do Mar Salgado", editado pelo CEMAR.
Os velhos morrem. Os novos (ainda) não sabem de nada.
Essa ignorância é sabiamente organizada, e semeada,
nas entidades oficiais para isso próprias: "as escolas", as "instituições de cultura" e "a comunidade científica"
Os livros do Capitão João Pereira Mano (1914-2012) — "Terras do Mar Salgado: São Julião da Figueira da Foz - São Pedro da Cova-Gala - Buarcos - Costa de Lavos e Leirosa..." (1997) e "Lavos: Nove Séculos de História" (2000) — são as melhores obras que, desde sempre, foram escritas e publicadas sobre a História Marítima e Local da Figueira da Foz (Portugal).
Por isso, a mais digna, a mais útil e mais adequada de todas as Homenagens que devam agora ser prestadas a este autor recentemente falecido (07.08.2012) — um autor que nos dias da sua vida foi não somente o maior e o mais prestigiado de todos os capitães da Marinha Mercante da Figueira da Foz (condecorado em 1973 com a Medalha Naval de Vasco da Gama da Marinha Portuguesa) mas também o maior e o mais importante de todos os especialistas da História Marítima Figueirense (sem que, para isso, tenha precisado de ter sido licenciado ou doutorado em qualquer espécie de universidade) — é a rápida reedição facsimilada dos seus livros, os quais, desde há muitos anos, estão totalmente esgotados, e por isso há muito deixaram de ser acessíveis ao grande público.
Reedição que até será agora muito fácil e muito barata, pois, pela nossa parte (do editor, sem fins lucrativos, CEMAR-Centro de Estudos do Mar), tal como sempre, à nossa boa maneira, não pretenderemos receber, para nós próprios, nem um só cêntimo de dinheiro público (e, pela parte da impressora original, a Tipografia Cruz & Cardoso, casa de tão grandes tradições na História Cultural da cidade da Figueira da Foz, tanto quanto sabemos, existem ainda hoje em dia lá conservados os materiais originais da impressão, e portanto poderá ser feita uma reimpressão a qualquer momento, com toda a facilidade).

Esses dois livros ficaram publicados, em 1997 e 2000, ambos com tiragens de 1500 exemplares, e é claro que, tendo tido a qualidade e a utilidade que tiveram, e tendo sido distribuídos somente por ofertas, como forma de divulgação cultural, sem qualquer venda comercial, logo se esgotaram ao longo dos meses e anos seguintes, e desde então ficaram inacessíveis a novos públicos que os procurem (e, por isso, mais facilmente silenciáveis por quem futuramente silencie tudo o que neles é escrito).

É totalmente inadmissível a maneira como depois disso, em 2005-2008, pela parte de entidades oficiais autárquicas, com dinheiro público, foram feitas comemorações oficiais, na Figueira da Foz, das fortalezas marítimas, do desembarque do exército inglês de 1808, etc., em cerimónias e publicações oficiais em que, nalguns casos, continuaram a ser repetidas e plasmadas em discursos, livros, textos impressos em papel, textos gravados em pedra (!), as mesmas ignorâncias e asneiras científicas — nomeadamente sobre o local do desembarque do exército inglês… — que, desde há tantos anos, vinham sido denunciadas e corrigidas pelos textos e livros que haviam sido escritos pelo historiador local autodidacta Capitão João Pereira Mano e que haviam sido editados pela entidade editora local sem fins lucrativos CEMAR - Centro de Estudos do Mar (a entidade que, na Figueira da Foz, se honrou em ter esse historiador autodidacta como seu Associado Honorário).
Em Portugal, espantosamente, nestes anos 2005-2008, continuou a acontecer a mesma coisa que, desde sempre, havia acontecido: autarcas, profissionais e directores e funcionários públicos de entidades oficiais de Cultura, e representantes de instituições do Estado, locais e vindos de Lisboa, pagos com dinheiro público, continuaram a repetir e a espalhar os mesmos erros científicos que, previamente, já haviam sido corrigidos (e, em muitos casos, corrigidos por autores amadores e autodidactas, desinteressadamente, como foi o caso deste autor João Pereira Mano, da Figueira da Foz).

É totalmente inadmissível a maneira como, pela parte de alguns, nas entidades oficiais, fiscais e académicas — ao mesmo tempo que se continua a asfixiar e a destruir as pequenas comunidades de pescadores dedicados à "Arte" (a pesca de arrasto para terra da Beira Litoral), sobrecarregando-as com novas imposições e exigências (agora, em vez das habituais tributações senhoriais medievais, imagine-se, modernos rigorismos fiscais "justificados" em nome da preservação ecológica...!) — se continua a repetir e a propagar (e propagar entre as próprias comunidades de pescadores...) o mesmo erro de chamar "Xávega" à "Arte" (a Pesca de Arrasto para Terra) destes pescadores portugueses da Beira Litoral… O erro que, desde há tantos anos, havia sido denunciado e corrigido pelos textos e livros do Capitão João Pereira Mano…! É um total desrespeito para com estas comunidades de pobres pescadores portugueses, e é um total desrespeito para com este historiador figueirense Cap. João Pereira Mano, neto e bisneto de pescadores, que tão bem as estudou (e também para com a memória de outro oficial de Marinha, e por sinal também figueirense, que no passado foi a maior de todas as autoridades científicas e etnográficas em Portugal sobre pescadores, e que foi o Com. Antonio Arthur Baldaque da Silva).

É totalmente inaceitável, vergonhoso e inadmissível, o modo como foi silenciada a existência do livro anterior "Terras do Mar Salgado: São Julião da Figueira da Foz..." (1997) no capítulo inicial, introdutório e especialmente dedicado a listar e a apreciar as obras previamente publicadas e existentes sobre a matéria, de uma "Monografia da Freguesia de São Julião da Figueira da Foz" que foi posteriormente encomendada, paga com dinheiro público, e editada, pela própria entidade oficial autárquica do Estado português (a Junta de Freguesia local). Uma monografia que, em 2009, foi facturada e escrita por um historiador profissional provindo da vizinha universidade pública chamada Universidade de Coimbra. E, para além dessa omissão de qualquer referência no capítulo inicial pertinente, depois, na própria bibliografia final dessa monografia de 2009, então encomendada e paga pela Junta de Freguesia de São Julião, o livro do Capitão João Pereira Mano só foi citado, abreviadamente, pelo seu título principal ("Terras do Mar Salgado") e foi amputado, na citação, do seu subtítulo (São Julião da Figueira da Foz...").

Sempre que em Portugal são silenciadas, menosprezadas e esquecidas as melhores obras — e, ainda por cima, escritas, publicadas e editadas, com amor, por quem com elas não quis ganhar, mercenariamente, qualquer dinheiro (muito menos dinheiro público) —, compreende-se que, para futuro, os mesmos erros do passado — toda a espécie de erros, desde os locais aos nacionais (sempre desleixados, rotineiros e oficiais, amplificados à maneira portuguesa, desde a Xávega do Algarve até ao Infante Dom Henrique de Sagres…) — possam ter todas a condições para neste país e em todas e cada uma das suas cidades continuarem a ser infindavelmente repetidos e cultivados. Numa interminável sementeira de ignorância. Num país que, quer a nível nacional, quer a nível local, não vai nunca assim conseguir sair da sua miséria, da sua ignorância doutoral e do seu subdesenvolvimento.

Foi isto mesmo que ficou agora dito pela parte do CEMAR - Centro de Estudos do Mar, editor dos livros "Terras do Mar Salgado: São Julião da Figueira da Foz..." (1997) e "Lavos: Nove Séculos de História" (2000), e por isso foi agora feita (ou está neste momento a ser feita) a oferta e a entrega de alguns dos últimos exemplares que ainda restam destes dois livros, para as entidades autárquicas a cujos territórios tais livros dizem respeito (Figueira da Foz, São Julião, São Pedro da Cova-Gala, Lavos), convidando-se essas entidades autárquicas a reeditarem elas próprias estes livros (ou a apoiarem a sua reedição, pelo CEMAR), com os seus próprios recursos de dinheiro público. Para que, assim, possam voltar aos olhos do público estes que são os melhores, os mais importantes e rigorosos, os mais bem fundamentados e documentados, e os mais bem escritos, de todos os textos alguma vez publicados sobre a História Marítima e Local da Figueira da Foz e das regiões vizinhas do sul da Foz do Mondego. E, assim, nunca mais possam ser silenciados.

Postagem confeccionada a partir de um mail da CEMAR

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