“Os polícias que se manifestaram mostraram que, se
quisessem, subiriam a escadaria de São Bento até ao último degrau, com a
condescendência de quem lá estava para o evitar; os seus camaradas, incumbidos
de impedir a subida da escadaria, mostraram que cumpriram o dever que lhes foi
conferido, com a cumplicidade de quem queria subir a escadaria. O governo devia
perceber que o poder depende de quem tem a missão de o defender. Como este
governo detesta o 25 de Abril, não percebe o que se passou nesse dia, nem o que
se passa hoje.”
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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