quarta-feira, 31 de agosto de 2016

É bom conhecer o passado, ter boa memória e não esquecer este covagalense e grande Senhor: se há figueirense que merece a atribuição de uma Medalha de Mérito Cultural, esse cidadão chama-se Manuel Luís Pata.

Não foi por acaso que, na semana passada, coloquei esta imagem como foto de capa no meu facebook.
Contudo, sejamos, desde já, claros.
A nostalgia não é boa companheira,  se não for acompanhada de lucidez. 
Sem lucidez a nostalgia é perigosa. 
A lucidez é que permite que a memória esteja no sítio que deve ocupar. 
A memória nostálgica é perigosa. Significa imobilismo, significa amargura, significa sempre dor. 
A lucidez permite-nos assumir a memória voltando a dar-lhe vida como período do nosso passado que é útil e bom recordar.

Vamos então tentar olhar para este quadro, pintado pelo recentemente falecido pintor Cunha Rocha para a família Gaia Braz, com lucidez.
A imagem que desenterrei da minha memória ao olhar para este quadro, já desapareceu há anos. 
Foi levada, nos anos 80 do século passado, por culpa e responsabilidade da Junta Autónoma das Estradas, com a conivência do poder autárquico figueirense.
O presidente da câmara da Figueira da Foz, nessa altura, era Joaquim Manuel Barros de Sousa.
Na altura, ainda não existia a freguesia de S. Pedro e a única e perseverante voz que se levantou, lutou e protestou contra esta mal feitoria que foi feita à nossa Terra foi Manuel Luís Pata.
Foi (mais...) uma luta perdida. Mas, agora, passados todos estes anos, como todos temos oportunidade de constatar, Manuel Luís Pata tinha razão.
A variante levou este postal magnifico da nossa Terra. 
Ainda bem que o artista, em boa hora, pintou esta obra que ficou para a posteridade...
Era tão bonita a antiga borda do rio da minha Aldeia.

Ficámos sem poder reconstruir aquilo que seria hoje o ex-libris da Aldeia.
A reconstrução nem sempre é possível... 
Contudo, por vezes, a única forma de começar de novo é precisamente esta - crescer do nada, já que absolutamente nada se tem a perder
Numa situação destas ou surge o maior dos desânimos ou a maior das forças.
E Manuel Luís Pata nunca desanimou.
O maior exemplo que Manuel Luís Pata nos deu e continua a dar, apesar dos seus mais de noventa anos e de todas as mazelas e incompreensões que o seu corpo e a sua alma tiveram de suportar ao longo da vida, e que as pessoas pensam que é a teimosia - que é força de vontade dos pobres - para mim, é outra coisa: é sim, do meu ponto de vista, um dos raros exemplos de verdadeira perseverança que conheço... 
Foto Bela Coutinho, obtida via Cemar

Os figueirenses sempre tiveram medo de assumir as suas posições. 
Antes do 25 de Abril, por razões óbvias.  E, agora, no tempo que nos dizem ser da democracia, continuo a conhecer muito pouca gente que arrisque tornar-se cidadã de corpo inteiro. 
E todos sabemos porquê.
Continuam a existir represálias, mais ou menos encapotadas.
Por isso é que, numa sociedade como a figueirense, são tão importantes e decisivos cidadãos como Manuel Luís Pata.
Todos nascemos completos. Contudo, só poucos conseguem viver assim.

A coluna vertebral permite que caminhemos de forma erecta. 
Utilizar a coluna para andarmos levantados, fazendo frente a quem não quer que a usemos para esse fim, é um dever de cidadania. 
Manuel Luís Pata é um desses raros cidadãos: continua erecto e  consequente...

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