É com muita revolta que a viúva de Joaquim Comboio, reage ao arquivamento do processo que respeita ao naufrágio do arrastão Olívia Ribau, a 6 de Outubro do ano passado, em que morreram cinco homens, entre os quais o seu marido.
Ilda Coelho disse ontem ao Jornal Diário de Coimbra que aguarda «que o advogado tome uma decisão», mas vai advertindo: «o caso do meu marido é diferente, porque esteve à espera de socorro à vista de toda a gente, demasiado tempo».
António Comboio, de 57 anos, pescador experiente (andava ao mar desde os 14 anos), ainda aguentou alguns minutos agarrado ao casco da embarcação, pedindo por socorro, que não chegou,
acabando por sucumbir.
«O meu marido estava ali à vista de toda a gente, soube que ia morrer e ninguém fez nada», desabafa exaltada Ilda Coelho, deixando vir ao de cima as memórias da tragédia.
E garante que o marido, contrariamente ao que foi dito, «sabia nadar e tenho testemunhas de amigos dele de infância que o podem confirmar».
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
Sem comentários:
Enviar um comentário