Para quem não sabe, a Timelapse é uma empresa de audiovisual multipremiada, com sede na Figueira da Foz. Tem entre os seus clientes conhecidas marcas e instituições portuguesas e multinacionais.
Foi fundada por dois jovens empreendedores. Os seus nomes: João Traveira e Luís Pereira.
Começou com uma brincadeira e tornou-se um caso sério de sucesso internacional.
A dado passo de uma entrevista dada ao jornal AS BEIRAS, que pode ser também ouvida na íntegra, mais logo, pelas 21H00, na Foz do Mondego Rádio (99.1FM), e vista na Figueira TV, Jot´ Alves pergunta: "têm clientes na Figueira da Foz?"
A resposta de João Traveira é elucidativa: "tivemos um trabalho este ano, para o Cevadas. Talvez não chegue a um por cento [o número de trabalhos produzidos para clientes locais]."
Nota de rodapé.
O problema da juventude talentosa, que está fora dos circuitos políticos e empresariais que se movem no "arco do poder", que ainda existe e insiste em trabalhar a partir da Figueira, é que esses sectores já deram por adquirido que essa tal mais valia (a tal juventude talentosa...) não existe...
A Figueira transformou-se num clube de amigos... Não só por isso, mas também por isso, a Figueira está às portas da morte. Pouco a pouco, os burocratas do regime foram afastando os valores que a Figueira tinha.
Esta entrevista do João Traveira é transparente e esclarecedora.
Por muito maçadora que seja a vida, hoje, numa cidade como a Figueira, ela teria que ter algum conteúdo, ideias e valores. E isso é algo que a Figueira deixou de ter: vivemos no vazio de ideias e competências.
A Figueira, hoje, não é nada.
A classe política vive entregue a si mesma. Nas suas conversas e encontros, nunca, ou muito raramente, dá conta da vida do cidadão comum, nunca se desloca em transportes colectivos, nunca, ou muito raramente, anda pelo meio da rua, nunca, ou muito raramente, sente o ambiente de um local de trabalho colectivo ou de um mercado.
A excepção que confirma a regra, resume-se ao período das campanhas eleitorais.
E a selecção foi-se tornando cada vez mais negativa, como os actuais detentores do poder executivo municipal são disso a melhor prova viva e actuante.
Os melhores preferiram desligar-se da política activa e entregar-se a trabalhos concretos.
A política na Figueira tornou-se um misto de palavras e intrigas...
Para abreviar: acabaram por ficar os piores. Como está a confirmar-se...
A falta de diálogo entre as cúpulas partidárias resulta, as mais das vezes, de tricas, questões e rivalidades puramente pessoais (se os figueirenses soubessem o que se passa por vezes nos chamados bastidores da política figueirense...).
A mediocracia (expressão criada por Balzac para designar “nova classe política burguesa”) acabou por fazer o seu caminho...
Quem tenha memória do que se passou a seguir ao 25 de Abril de 1974, sabe que, também na Figueira, tivemos políticos e técnicos capazes, que a revolução tornou inúteis.
A chamada classe política, tornou-se num grupo social profissionalizado, não ao serviço do interesse público e do povo, mas dos seus interesses pessoais e das capelinhas partidárias. Tem servido, sobretudo, como veículo ideológico conveniente aos interesses individuais de quem passa pelo poder.
Isso, não é política e muito menos gerir uma cidade e um concelho com uma visão estratégica ao serviço dos seus habitantes...
Isso, é interesse...
Dirão os caciques e os demagogos, que o que importa é o que sente o eleitorado real que vota.
Por isso mesmo é que vivemos mergulhados em doses contínuas de agitação e propaganda da classe política local, mas não se fala das coisas reais e concretas, nem dos problemas reais dos figueirenses...
A morte da Figueira, está a ser consumada todos os dias... Só não vê o óbvio quem não quer mesmo ver. Ou nisso não tem interesse...
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário