"O arquitecto telefona-me em jeito de desabafo: “tu já viste o que fizeram ali na marginal de Buarcos em frente à Muralha? Mais um muro de betão que nos corta a vista e não serve para nada?”.
Tem razão.
A Agência Portuguesa do Ambiente e a Câmara Municipal da Figueira da Foz decidiram que precisamos de reforçar a “muralha de pedra e betão dos anos 80” para proteger a rodovia.
Contrariando qualquer Manual de (bom) Urbanismo, mantêm-se as infraestruturas viárias construídas literalmente em cima da praia. Nada se fez para as substituir por usos pedonais ou recreativos.
Resumo, em 2017, o Estado português insiste em gastar dinheiro em obras áridas, repetindo erros do passado e desprezando o património natural e construído.
Lamentável ainda a falta de ambição do actual executivo na transformação da cidade. O peão, a bicicleta, o lazer saudável continuam a ficar com as nesgas e o que sobra do espaço ocupado pelo sacrossanto automóvel.
Estacionamento, postes de iluminação e um relvado vazio é tudo que existe em frente à “Muralha de Buarcos”.
O modelo espacial de intervenção na frente de Buarcos continua a subestimar a “Fortaleza de Buarcos” que resiste desde 1751, ano em que terminou a sua construção.
Porque não retirar a rodovia e defender a costa com “praia e areia”? Porquê privilegiar a “preguiça automóvel”?
A resposta é simples, há ausência de visão e um enorme comodismo, próprio de quem não anda a pé nem vivencia os espaços.
A oposição política também não existe nem quer andar a pé."
“Betão em força”, uma crónica de João Vaz, consultor de ambiente.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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10 comentários:
Quis dizerMONÓLOGO...??...☺
Quis dizer MONÓLOGO...??...☺
Quis dizer MONÓLOGO...??...☺
Só podem estar a brincar!!!
Tirar a estrada?
Os carros por onde circulavam?
A estrada não foi alargada, mantém-se no mesmo sitio e largura que tinha.
Com a obra ganhamos segurança e espaço para os peões e ciclovia.
Este Sr agora fala. mas ele em muito contribuiu para a visão curta deste executivo... Quando a sua consultora para o ambiente defendeu a renaturalização, da praia da Figueira, contribuindo assim para o estado calamitoso em que a praia se encontra.
Perdeu uma oportunidade de enquanto homen de confiança e menino bonito para o ambiente do regime de contribuir de uma forma decisiva para uma redução radical do areal da praia da Figueira.
Este Sr defende uma coisa e o seu contrário, talvez tiques de quem já passou pela vereação.
Disse
Parabéns a João Vaz e ao Outra Margem pela visão que têm da cosra figueirense, que partilho, em especial das barbaridades cometidas nas imediações das canhoeiras. Uma insanidade que destrói o maior bem da Vila, a sua Praia e os, outrora, fantásticos Penedos. Pasme-se; tudo em nome do ambiente!!! Retirar a rodovia, sim senhor; da rotunda do pescador ao Tamargueira, e a partir daí retirar uma via até ao Cabo Mondego. Recuperar a praia, a enseada e os Penedos tal com eram, lindos e únicos. Construir silos verticais em locais estratégicos e restringir o trânsito na Vila aos moradores e com disciplina, incentivar, e não punir, os moradores a cuidar das suas casas e a florir as respetivas fachadas; portas, janelas, varandas. Substituir o asfalto por blocos e calçada portuguesa, onde fosse apropriado. Restituir a condição de Porto de pesca à Praia de Buarcos e incentivar os pescadores ou seus descendentes a restaurarem os míticos doris, identidade da epopeia dos pescadores de Buarcos da pesca do bacalhau. Um povo que destroi a sua memória, não tem futuro e Buarcos, já está morto, às mãos da Câmara da Figueira da Foz e da respetiva Capitania.
Pelas observações que tenho ouvido, supunha que era o único que não concordava com o muro, que em minha opinião, anulou a visibilidade única de todo o horizonte visual que se via no sentido sul-norte. Além disso, penso que o lancil está demasiado alto.
Voltando ao muro. À semelhança do que se passou no passado, em que construiram exactamente no enfiamento da Rua da Liberdade e da Rua Bernardo Lopes os dois edifícios que estão na Avª de Espanha, teimam em cortar, betonizando, a relação das povoações com o rio ou com o mar.
Antes desta obra, ninguém era contra a estrada.
Agora que a obra melhorou toda aquela zona, toda a gente está contra a estrada...
Sinceramente não percebo.
Queriam que ficasse como estava?
Tiro-lhe o chapéu: tem razão caro anónimo...
Se te manifestas contra o Governo em Caracas, estás a lutar pela liberdade e contra o absolutismo.
Se te manifestas contar o Ataíde, na Figueira, és um irresponsável incapaz de perceber que as tuas atitudes provocam consequências desastrosas....
Aqui o trabalho está feito: temos gente perfeitinha e imaculada na governação...
Ninguém está a defender ou a atacar Ataíde.
Aqui estamos a falar em tirar a estrada para repor a praia, tal como existia antigamente.
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