terça-feira, 28 de novembro de 2017

Morreu o Mário Neto

Na Figueira da Foz, no dia 10 de Novembro de 1977, viu a luz do dia o primeiro número de um novo projecto jornalístico que, então, gerou enorme expectativa e que ainda hoje é recordado por muita gente do concelho e não só.
Foi o Barca Nova, onde me iniciei nas lides jornalísticas.
Mas, não é de mim que quero falar. 

Entre os seus fundadores estavam nomes de referência da jovem Democracia saída do 25 de Abril de 1974.
Já faleceram alguns. 
Começou com Ruy Alves. Mas, entretanto a lista foi aumentando: Jorge Rigueira, Gilberto Vasco, Cerqueira da Rocha, Leitão Fernandes, Luís Falcão, Orlando Carvalho, José Penicheiro, Adelino Tavares da Silva, Carlos Alberto Amorim, Waldemar Ramalho, Luís de Melo Biscaia, Vasco Gonçalves, Joaquim Namorado, José Martins e Armando Correia.
Ontem foi mais um: o Mário Neto, de seu nome completo, Mário António Figueiredo Neto.

Conheci o Engenheiro Mário Neto antes do Barca Nova... 
Foi meu professor na Bernardino Machado, quando andei a estudar à noite. 
Grande Homem, grande professor, estudioso, discreto e culto. 
Foi também professor universitário.
  
Depois, fomos companheiros de redacção no Barca Nova
Foi um militante antifascista, antes do 25 de Abril de 1974. Devido a isso foi preso político. 
Ultimamente encontrava-o no café onde continuava a passar as tardes como sempre o conheci: a estudar e a recolher dados, sempre acompanhado de livros e jornais. 
Era um fanático das estatísticas e do estudo sério e aprofundado de todas as questões. Aprendi muito com ele no final da década de 70 e princípio da década de 80 do século passado. 
Foi deputado na Assembleia Municipal da Figueira da Foz.

Mário Neto era dos que acreditava que para defender e lutar pelos nossos interesses, não é necessário sobrepô-los aos legítimos interesses dos outros. Nem consentir que os interesses dos outros se sobreponham aos nossos legítimos interesses.
Aprendi com ele, que para defender os interesses locais era preciso sensibilizar a opinião pública para os principais problemas existentes. Para isso, é preciso informar. Fazer-se eco das opiniões, porventura, divergentes, que a propósito desses problemas ocorram.

Foi por isso,  que em Novembro de 1977 surgiu o Barca Nova: para contribuir para que a análise dos problemas acontecesse. Para tentar ajudar a distinguir o essencial do acessório, o importante do sensacional. 
Informar e, ao mesmo tempo, formar. Saber ouvir, mas também saber falar.
Com a sua perda a Figueira ficou mais pobre: não a parte visível, mas a invisível. 
Até um dia destes Mário Neto. 

Como diria outro velho e sábio colaborador do Barca Nova, também já desaparecido,  Guije Baltar, "pudesse eu viver uma eternidade e nem assim se apagaria da minha memória a melhor gente que passou pela minha vida: a equipa Barca Nova".
Passe a imodéstia,  vou citar-me a mim mesmo (um texto publicado na edição de 12 de fevereiro de 1982, do jornal Barca Nova, página 4.)
Lá aprendi, "que os democratas têm coisas mais profundas e importantes a uni-los do que a dividi-los. No essencial, têm aquilo que é fundamental a irmaná-los: a defesa da democracia."
Que desgosto que eu tenho, que o meu País, o meu concelho e a minha Aldeia, não "tivessem trilhado um caminho onde a transparência de princípios e a honestidade de processos fizesse parte do nosso quotidiano colectivo"... 
Voltei a recuar a 12 de fevereiro de 1982 e, passe de novo a imodéstia, tornei a citar-me.  

Entretanto, tudo se foi escoando. 
Tudo tem o tempo que o Tempo permite!
Contudo, só há mortos inadiáveis depois do esquecimento. 
Os restos mortais do Mário António Figueiredo Neto estarão em câmara ardente entre as 12 e as 18 horas de hoje.
Os meus pêsames à família enlutada.

8 comentários:

Anónimo disse...

Aqui está um excelente exemplo de um homem livre e de bons costumes, um bom maçon, da Loja Fernandes Thomaz, que honrou os principios do seu patrono. É uma referência, que muitos deviam seguir o seu exemplo, o seu comportamento e as suas virtudes. Uma enorme perda para a maçonaria, e para a Figueira. Perde-se um democrata, e um amante da liberdade, da cultura e do saber. "Um escravo da Liberdade". Serviu sempre, sem nunca se servir. Afinal, na maçonaria nem tudo é farinha do mesmo saco.
A melhor homenagem, que o cronista do reino de lupanar pode fazer, é não escrever nada sobre Mário Neto. Pelo menos, uma vez na vida, não seja cinico e honre a memória de um verdadeiro maçon.
Descansa em paz Mário no O.E.
Disse

Rogério Neves disse...

Para além de um grande amigo um MESTRE. Acabei de ter conhecimento do seu falecimento e sinto um vazio grande. Li o teu texto e fez-me rolar uma lágrima de saudade pelos tempos e noitadas no Partido que militávamos, grandes debates na esplanada da NAU a seguir ao fecho do Barca Nova com esse grande e inesquecível amigo Zé Martins.
Mário Neto era uma mente de sabedoria e de uma humildade sem limite. Estou plenamente de acordo contigo a Figueira e nós com o seu desaparecimento ficou mais pobre.
Com o devido respeito pelo teu trabalho vou partilhar no meu mural e Blogue o teu texto.
Até um dia Mário... Descansa em paz

ANTÓNIO AGOSTINHO disse...

Dispõe sempre Rogério. Um abraço

Anónimo disse...

Grande Professor, Grande Homem, Grande Maçon, Grande MESTRE

Um exemplo concreto do risco que se toma ao avaliar a floresta por meia dúzia de árvores.

Nada é por acaso:

"Para que se reúnem os Maçons em loja?

Para combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros, glorificar o Direito, a Justiça, a Verdade e a Razão"

Anónimo disse...

Exmo. Senhor se entender não publicar o comentário eu entendo.
Não quero em circunstância alguma associar ou confundir o homem com algo de que o mesmo, pelos vistos, fazia parte.
Lamento muito a morte do SENHOR como lamento sempre a morte.
É um momento triste para a família, amigos e todos os demais que tem consideração pelos que partem.
Se era maçon ou não, não sei. Respeito.
Agora isso não limpa aquilo que é a maçonaria.
Em tempos de liberdade e em países democráticos não se justifica o carecter secreto da maçonaria.
Permite toda a porcaria que la vai dentro sem qualquer escrutínio publico.
Quem quer “combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros, glorificar o Direito, a Justiça, a Verdade e a Razão” fá-lo de forma limpa e transparente.
Se não conseguem sequer alguma decência interna querem o quê. Atirar areia para os olhos.
Tretas.
Reitero o meu pesar pelo falecimento.

Anónimo disse...

Hitler, Salazar, Franco, entre tantos outros...
Todos usaram o mesmo argumentário. A extrema-direita continua a fazer do mesmo bandeira.

Diz muito da democracia em que vivemos, e do respeito que temos pela liberdade individual de cada um.

Poucos são os que não defendem poder reunir-se com quem quer que seja, onde quer que seja, e sem que tenham de tornar público o porquê de se reunirem (seja para debater política, futebol, sueca, ou as coleções de cromos do pingo doce).

Já a liberdade de outros se reunirem nas mesmas condições, é outra história.

Isto num país onde se prenderam centenas pelo simples acto de reunir em segredo.
Nem de propósito: apenas queriam uma democracia.

Anónimo disse...

O anonimo das 18.29 deve ser perito em atirar areia para os olhos.
A maçonaria por acaso começou como um clube de sueca? Somos parvos.
Quantos membros do poder do estado novo, incluindo presidentes, eram maçons?
Razão diferente era dar-lhes rédea solta.
Ninguém está contra a liberdade de reunião (secreta ou publica).
O que esta em causa é a existência de grupos organizados que querem viver do secretismo sem que nada o justifique.
Porque é que a Aliança Maçónica Europeia é, nas palavras do seu presidente, um parceiro da comissão europeia e do parlamento europeu?
Porque razão um recém eleito presidente de uma loja foi recebido pelo Presidente do Parlamento Português após a sua eleição e nessa qualidade?
Porque razão policias, justiça, serviços de inteligência e informação estão impregnados de maçons?
Porque razão eu ou qualquer cidadão pode pedir que um juiz seja substituído num processo por ter proximidade ou afinidade com uma das partes (podem partilhar laços de parentesco ou outros); posso pedir a substituição de alguém num júri de um concurso pelos mesmos fundamentos?
A razão é simples porque é público e transparente.
E se a ligação as partes é secreta já posso. Não, não sei sequer que existe.
No caso da candidatura de Isaltino em oeiras foi lançado um incidente de suspeição porque o juíz era padrinho de casamento de um dos candidatos.
E se fossem ambos maçons (e mesmo o juíz numa posição hierárquica inferior) podiam? Não, ninguém sabia.
O resto são tretas. Quem subverte a democracia são aqueles que não a respeitam. A começar por aqueles que acham que a vida democrática se faz em segredo.
Nota: Se o senhor Mário Machado junta alguns moderados com ideias moderadas ( com que podemos concordar ou não) mais os ingredientes da maçonaria amanha estamos a chamar-lhe senhor deputado Mário Machado.
É isso que acontece quando os problemas não são discutidos de forma clara e transparente mas em seitas.
A estrema direita e a extrema esquerda não são nenhuma doença. São apenas a manifestação da dita.
A verdadeira doença é aquela que os permite crescer.

Anónimo disse...

E o cronista de lupanar não resistiu, e lá escreveu nas Beiras, sobre o desaparecimento de Mário Neto, para capitalizar à conta da desgraça alheia. No elogio fúnebre, disse uma grande verdade - Mário Neto sabia a sério,e não era uma sabichão, ou contrário do cronista, que mais parece o Nuno Rogeiro de Montemor (sabe de tudo, até de bolos). Este Zé Fernando não tem Vergonha , e sentido de oportunismo serôdio , é coisa que não lhe falta. Raio do Beato Salú do avental não se enxerga. Irra!!!