“As chamas vão continuar a consumir hectares de floresta; o
combate às chamas vai continuar a sair do bolso dos contribuintes, para gáudio
dos combatentes privados e luto dos combatentes públicos; o combate à
desertificação do território, num futuro próximo, também vai sair do bolso do
suspeito do costume – o contribuinte; as vidas humanas e a miséria do dia
seguinte ficam a cargo dos mesmos de sempre – os que já pagam o combate às
chamas e vão pagar a guerra contra a desertificação do território; a biodiversidade
fica por conta dos contribuintes das gerações futuras [onde é que eu já ouvi
isto?]; as televisões vão ganhar shares de audiência, assim que mudarmos para a
hora de Verão, com directos do local do crime e bate-papos da treta com
especialistas da tanga; o lucro, esse, já se sabe para quem fica, porque o
crime compensa e está consagrado em papel de Lei e tudo. É toda uma indústria à
roda do património natural, comum a milhões para benefício de algumas dezenas.”
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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